O futuro Hub de data centers do mundo é o Brasil
- Thiago Ferraz
- 15 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Nos últimos meses, o Brasil tem atraído uma onda expressiva de investimentos no setor de data centers, posicionando-se como um dos principais destinos para gigantes da tecnologia que buscam expandir suas operações na América Latina. Empresas como Amazon Web Services (AWS), Microsoft, Google Cloud e Scala Data Centers estão à frente dessa tendência, com aportes bilionários que visam não só o aumento da infraestrutura, mas também a capacitação de profissionais e o fortalecimento da presença de serviços digitais no país.
A AWS anunciou recentemente um investimento de R$ 10,1 bilhões até 2034, além dos R$ 19,2 bilhões já alocados entre 2011 e 2023. A expansão visa reforçar a infraestrutura de computação em nuvem e inteligência artificial (IA) no estado de São Paulo, juntamente com programas de treinamento para mais de 800 mil brasileiros em fundamentos de nuvem. A Microsoft, por sua vez, segue uma estratégia similar, com um aporte de R$ 14,7 bilhões para impulsionar sua operação de cloud computing e IA, destacando-se pela integração do Copilot, sua IA generativa, a fluxos de trabalho empresariais.
A Infraestrutura Brasileira e o Crescimento de Data Centers
Além dos investimentos de gigantes como AWS e Microsoft, o Brasil conta com um ecossistema de players locais e internacionais que estão expandindo suas operações para atender à crescente demanda por serviços de cloud e IA. Um exemplo notável é a Scala Data Centers, que investiu R$ 6,5 bilhões na segunda fase de seu complexo em Barueri (SP), parte de um compromisso de R$ 32 bilhões para a construção do maior campus de data centers da América Latina, o Campus Tamboré, com capacidade energética de 450 MW.
De acordo com a Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), o Brasil abriga cerca de 150 data centers operados por grandes provedores e empresas de telecomunicações, com forte concentração nas regiões Sudeste e Nordeste, sendo São Paulo e Fortaleza as principais localizações estratégicas. Fortaleza, em particular, destaca-se por sua posição geográfica como ponto de interconexão de redes internacionais, o que atrai hyperscalers — grandes clientes de data centers — interessados em garantir baixa latência para suas operações, especialmente no contexto da crescente adoção de IA e internet das coisas (IoT).
Energia e Escalabilidade: Desafios do Mercado de Data Centers no Brasil
Apesar do otimismo gerado pelos investimentos massivos, o setor de data centers no Brasil enfrenta desafios estruturais importantes. A matriz energética do país, embora predominantemente limpa, ainda apresenta limitações quanto à escalabilidade e à previsibilidade de custos. A dependência das hidrelétricas, que sofrem com a variabilidade climática, coloca em risco a capacidade de expansão sustentada do setor. Isso se torna ainda mais crítico considerando que a energia é um dos principais custos operacionais para data centers, e os períodos de "tarifa vermelha" podem inviabilizar a viabilidade de alguns projetos.
Além disso, os custos operacionais no Brasil são elevados, em parte devido à carga tributária e à precificação de serviços em dólares, o que dificulta a previsibilidade de custos para as empresas que utilizam serviços de nuvem. No entanto, a construção de data centers locais ajuda a mitigar parte desses obstáculos, reduzindo a dependência de infraestrutura externa e garantindo maior soberania de dados, um tema de crescente importância no cenário regulatório brasileiro.
A Expansão da Nuvem e o Papel da IA
Um dos principais motores por trás da expansão de data centers no Brasil é o crescimento acelerado da nuvem e das tecnologias de IA generativa, que exigem uma infraestrutura robusta e escalável para garantir a entrega eficiente de serviços digitais. Segundo Pietro Delai, diretor de pesquisa da IDC América Latina, o mercado de nuvem no Brasil cresce consistentemente a dois dígitos, mesmo em um contexto de baixo crescimento econômico. Isso reflete a resiliência do setor e a importância da escalabilidade, com provedores de nuvem tendo que garantir que, se um cliente precisar triplicar sua capacidade, essa demanda possa ser atendida de forma imediata.
A expansão da IA também traz desafios adicionais para a infraestrutura de data centers, que precisam lidar com demandas crescentes por processamento de dados e machine learning. O uso intensivo de GPUs e NPUs para treinamento de modelos de IA exige uma infraestrutura de suporte altamente especializada, incluindo sistemas avançados de refrigeração e fontes de energia robustas. Esse tipo de investimento em hardware e suporte leva muitos provedores a optar pela construção de novos data centers, em vez de adaptar os já existentes.
Perspectivas Futuras: Um Mercado em Expansão
O cenário de data centers no Brasil está longe de ser estático. Ao contrário, o país segue recebendo investimentos contínuos de empresas como Equinix, Angola Cables, Tivit e Odata, que estão ampliando suas operações para atender à demanda crescente por serviços digitais. A Angola Cables, por exemplo, está construindo um novo data center com um investimento de R$ 200 milhões, previsto para ser concluído em 2026, destacando-se como uma peça-chave no mercado de conectividade em Fortaleza.
Mesmo diante dos desafios, o Brasil tem o potencial de se consolidar como um hub global de data centers, especialmente devido à sua abundância de energia limpa e sua posição estratégica como ponto de interconexão nas Américas. No entanto, para que esse potencial seja plenamente alcançado, será necessário enfrentar os desafios regulatórios e estruturais do setor, incluindo a descentralização da infraestrutura de data centers e a garantia de uma matriz energética escalável e sustentável.
Os massivos investimentos em data centers no Brasil refletem a confiança das gigantes da tecnologia no potencial do mercado brasileiro, bem como a necessidade de atender à crescente demanda por serviços digitais avançados. Embora o setor ainda enfrente desafios significativos, como os custos operacionais e a dependência da infraestrutura energética, o otimismo prevalece, e o país caminha para se tornar um líder regional na transformação digital.
Com uma combinação estratégica de iniciativas privadas e políticas públicas sensatas, o Brasil pode se consolidar como uma referência global no setor de data centers, proporcionando a base necessária para impulsionar a inovação tecnológica e garantir que os benefícios da transformação digital alcancem toda a sociedade.

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